Monday, June 18, 2007

Por uma luta com outros sentidos

Caosesquizo e os piratas do caribe.

Ando em meio à ocupação, sem saber direito aonde ir, sem saber se abraço a causa, ou não. Eu ando em meio à ocupação com um olhar sempre enviesado, suspeito. Nesses últimos dias de caminhada tenho percebido uma relação entre os alunos em GREVE, os que ainda não se decidiram, ou aqueles que simplesmente repudiam a paralisação. Durante as caminhadas, presenciei algumas conversas, nas quais eram pedidas explicações a respeito do motivo da greve. Percebi, assim, que existe um problema conceitual diante de tudo isso, um problema que está relacionado ao pré-conceito que existe sobre a palavra greve.
Greve no dicionário significa uma recusa resultante de acordo de operários, estudantes, funcionários etc., a trabalhar ou a comparecer onde o dever os chama, enquanto não sejam atendidos em certas reivindicações. Parede é outro significado para greve. Esse seria o significado nos registros que a palavra tem, e que deveria ser tomado nessa luta que esses alunos decidiram travar. Contudo, o que acontece é que ao longo dos anos a palavra greve foi desgasta pelo seu uso, pelos resultados que propiciou e principalmente pelas significações adicionadas a ela pelos mídia. A GREVE hoje parece ter um significado de um movimento que está fadado ao insucesso, ao fracasso. Seria algo como o velho ditado popular, “Nadou e morreu na praia”.
Esse conceito de greve fabricado pela mídia está impregnado nas pessoas, está impregnado até os poros da maioria dos alunos que ao longo dos anos foram submetidos a essa visão. Então, quando eles caminham pelo campus, lêem os jornais, naquela palavra eles têm um sentido de fracasso, de algo que não adianta. Por esse motivo, é grande a resistência que a maioria dos alunos tem quando o assunto é a Greve. Para eles, o conceito é de perda de tempo, de uma luta que não levará a nada, a lugar algum, e essa sensação é a mesma que eu tenho quando leio a palavra greve.
Entretanto, sinto que este movimento é diferente de todos os demais. De todas as outras recusas. O acordo que se travou entre os estudantes reunidos nestas ocupações, as quais têm enlouquecido os burocratas, está ligado não somente à recusa daquilo que é imposto pelas instituições, mas a algo comum a todos e a todas: indignação. Por tudo. A ponto de fazer cada um e cada uma achar que vale a pena colocar a cara na frente das câmeras e trocar o conforto de suas camas pela estranheza destes espaços coletivos. Porque este movimento também se recusa a aceitar certa maneira de fazer movimentação estudantil, entronizada pelas entidades tradicionais de estudantes. Para estas entidades, tudo já havia sido definido. A maneira como devem ser feitas as assembléias. A maneira como devem ser feitas as ocupações. A maneira como devemos falar com os mídia. Pra nós, entretanto, as coisas vão mudando. Mudando ao sabor do almoço que preparamos em conjunto. Da ciranda que dançamos em conjunto. Do texto que escrevemos em conjunto. Dos cobertores que compartilhamos com cada um.
Por isso levanto nesse pequeno texto uma alternativa. Que criemos um nome para esse movimento. Ainda que ele tivesse as mesmas características da greve, que fosse a mesma coisa. Mas que esse nome seja outro, para que toda a significação feita até hoje se torne ineficaz. Eu diria para darmos um nome bem estranho, algo como Blop. E em parte eu faço essa coisa de dar o nome baseado em um ativista italiano, do qual não recordo o nome, mas que dizia: Tudo o que nomeio existe. Então, que esse movimento de mudança conceitual sirva para sairmos de uma rede de significados produzida por um poder, o qual significou em nossos amigos a sensação de uma luta vazia. Agora, que criemos um outro nome o qual esteja ligado à nossas significações, ao sentido que essa outra luta pode caminhar.

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